Foto: Salvador Dalí,
The Persistence of Memory, 1931

O salto do Surrealismo no mercado global

Os números falam por si. Entre 2018 e 2024, as vendas de obras surrealistas em leilão passaram de US$ 726 milhões para US$ 800,7 milhões, enquanto sua participação no mercado global quase dobrou, saltando de 9,3% para 16,8%.

Mais do que estabilidade, o movimento registrou momentos de explosão: os últimos 18 meses foram históricos, com recordes estabelecidos por nomes como René Magritte — cujo L’Empire des lumières alcançou US$ 121,2 milhões, o maior valor já pago por uma obra surrealista — e Leonora Carrington, que em 2024 conquistou US$ 28,5 milhões com Les Distractions de Dagobert.

Esse desempenho contrasta com a retração de segmentos tradicionais, como o impressionismo e o modernismo, e posiciona o Surrealismo como uma aposta consistente para colecionadores e investidores.

Foto: Ewa Juszkiewicz, Bird of Paradise, 2023. Courtesy of the Artist and Almine Rech. Photo by Serge Hasenböhler Fotografie

A ascensão das mulheres surrealistas

Um dos achados mais significativos do relatório é a ascensão das artistas mulheres. Historicamente incluídas nas exposições organizadas por Breton, mas durante décadas negligenciadas pelo mercado, elas vivem agora um processo de redescoberta e valorização.

As vendas de obras criadas por mulheres surrealistas cresceram de US$ 7,9 milhões em 2018 para US$ 94,3 milhões em 2024 — um aumento de mais de 1.000%, que elevou sua fatia no mercado global de 1,1% para 11,8%.

Leonora Carrington, Remedios Varo, Dorothea Tanning e Claude Lalanne são alguns dos nomes que impulsionaram essa virada, reforçada por grandes exposições e aquisições institucionais. O MALBA, em Buenos Aires, e a Tate Britain, em Londres, ampliaram seus acervos com obras de mulheres surrealistas, reforçando a legitimidade desse movimento de valorização.

Foto: Crédito Art Dot
Max Ernst

América Latina em destaque

O relatório revela que a América Latina tornou-se um dos polos de maior crescimento do Surrealismo. Entre 2018 e 2024, o segmento registrou um crescimento médio anual de 22,8%, muito acima da média global de 1,0%.

Nomes como Frida Kahlo, Leonora Carrington e Wifredo Lam consolidam o protagonismo regional. Vale destacar que, no primeiro semestre de 2025, 86% do mercado de surrealistas latino-americanos foi dominado por mulheres, mostrando como as narrativas femininas têm liderado essa transformação.

Essa ascensão também se reflete nos preços médios: enquanto as obras de surrealistas europeus recuaram de US$ 1,22 milhão em 2018 para US$ 1,18 milhão em 2025, os latino-americanos subiram de US$ 127 mil para US$ 470 mil no mesmo período.

Foto: RENÉ MAGRITTE, La Statue volante, 1958.
To be offered at Sotheby’s London in September 2025

Surrealismo contemporâneo: a reinvenção do inconsciente

Se os clássicos como Magritte, Dalí e Max Ernst continuam sólidos, são os artistas contemporâneos que vêm renovando a cena. Entre 2018 e 2024, as vendas de surrealistas contemporâneos cresceram 264,8%, alcançando US$ 140 milhões.

Destacam-se nomes como Adrian Ghenie, cujas vendas somaram mais de US$ 155 milhões desde 2018, além de Glenn Brown, Ewa Juszkiewicz e os franceses Les Lalanne. Este último casal, François-Xavier e Claude, levou a estética surrealista ao design, produzindo móveis e esculturas que alcançam cifras milionárias.

As artistas mulheres também se sobressaem nessa frente: entre os contemporâneos, registraram um crescimento de 411% nas vendas, consolidando uma fatia de 15,9% do segmento — superior à média de mulheres no mercado de arte em geral.

Foto: REMEDIOS VARO, Armonía (Autorretrato Sugerente), 1956.

O poder do mercado de troféus

Outro dado revelador é a presença crescente do Surrealismo no segmento de obras acima de US$ 1 milhão. Em 2018, representava 9,9% desse mercado; em 2025, já responde por 20,4%.

Apesar da concentração em nomes consagrados como Magritte, Dalí e Carrington, a diversidade de artistas nesse patamar vem aumentando. No outro extremo, também há expansão: as obras vendidas por menos de US$ 50 mil cresceram quase 90% em número de lotes entre 2018 e 2024, mostrando que o interesse pelo movimento se estende de colecionadores iniciantes a grandes investidores.

Foto: Acervo Artk- Walter Lewy

Quem são os colecionadores do Surrealismo?

O relatório destaca mudanças geracionais no perfil dos colecionadores. Embora Baby Boomers e a Geração X ainda sejam os mais ativos, as novas gerações começam a ter papel de destaque.

A participação dos Millennials dobrou entre 2018 e 2025, passando de 12,6% para 23,8% dos lances. Já a Geração Z, praticamente ausente em 2018, representa hoje 6,2% da base de compradores.

Geograficamente, a Europa ainda concentra quase metade dos colecionadores, mas cresce a presença da América Latina e da Ásia, especialmente no segmento de mulheres surrealistas, onde a demanda latino-americana tem sido determinante.

Foto: Cortesia Art Rio

Surrealismo além das artes visuais

A vitalidade do Surrealismo não se limita ao mercado de arte. Sua estética atravessou fronteiras e se infiltrou na moda, no cinema, na literatura, na música e até nos videogames. Designers como Alexander McQueen, Rei Kawakubo e Iris van Herpen revisitaram o legado de Salvador Dalí e Elsa Schiaparelli, enquanto diretores como David Lynch e Michel Gondry perpetuaram a lógica dos sonhos e narrativas não lineares no cinema.

Até mesmo na cultura digital, jogos como Kentucky Route Zero transportam o jogador para universos que ecoam o espírito surrealista. Essa transversalidade explica por que o movimento permanece tão atual e reconhecível, mesmo após cem anos de sua fundação.

Foto: Divulgação Alexander McQueen, verão 2024.

Um legado em constante transformação

O relatório da Sotheby’s conclui que o Surrealismo não apenas resiste ao tempo, mas se reinventa continuamente, refletindo as ansiedades, sonhos e desejos de cada época. Hoje, sua força se traduz em recordes de vendas, valorização de artistas antes marginalizados e no entusiasmo de novos colecionadores.

Como disse Breton, era preciso “transformar o mundo, mudar a vida”. Cem anos depois, o Surrealismo segue cumprindo essa promessa — tanto no imaginário cultural quanto no mercado de arte, onde se consolidou como o movimento mais dinâmico da atualidade.

Fonte: SOTHEBY’S INSIGHT REPORT By ArtTactic


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