Foto: créditos/ Whitney Museum of American Art, New York; purchase, with funds from Anna and Matt Freedman and an anonymous donor

1. Desfocando os limites: quando a imagem se dissolve na memória

Diante da antiga dicotomia entre abstração e figuração, muitos artistas contemporâneos têm adotado o desfoque como gesto estético e político. Ao borrar contornos, dissolver rostos ou tornar cenas quase irreconhecíveis, suas pinturas evocam a incerteza, a vertigem, a lembrança distante.

Essa escolha visual se torna ainda mais potente quando consideramos o contexto: crises políticas, colapsos ambientais e traumas coletivos fazem da nitidez algo quase agressivo. O desfoque, por outro lado, permite que o espectador ative sua própria subjetividade, acessando camadas emocionais que imagens hiperclaras não alcançam.

Foto: Luc Tuymans, Abe, 2022. Oil on linen

2. Pinturas com vestígios: o ateliê como parte da obra

Outra vertente em ascensão é a pintura que incorpora o processo como parte inseparável do resultado. São obras em grandes telas cruas, não esticadas, marcadas por pegadas, resíduos, respingos e sujeiras do espaço de trabalho. Ao invés de esconder o bastidor, os artistas o celebram.

Essas pinturas muitas vezes são instaladas de maneira não convencional: penduradas como panos, dobradas, ou dispostas como estruturas tridimensionais. Elas não querem ser apenas vistas, mas atravessadas — carregam a presença do tempo, do corpo e da matéria. Tornam visível o invisível da criação.

Foto: flexa galeria/ Leonilson Flexa

3. Lógica do inconsciente: o retorno do emocional simbólico

Há uma retomada da pintura que opera entre símbolos, atmosferas e arquétipos do inconsciente. Artistas têm criado cenas que desafiam a razão linear, com figuras ambíguas, espaços flutuantes e sensações que oscilam entre o devaneio e o despertar.

Mais do que narrativas lógicas, essas obras funcionam como acessos ao interior psíquico — imagens que evocam desejos, medos e intuições que a linguagem não alcança. Em um tempo saturado de racionalidade, elas reafirmam o valor da dúvida, da sensação e da imaginação como modos legítimos de compreender o mundo.

Foto: Ana Maria Lima/ Artk

4. Camadas temporais: pintura como acúmulo e cicatriz

Por fim, cresce a presença de obras que se constroem como palimpsestos — feitas de camadas sobrepostas, borrões, apagamentos e transparências. A tinta não é usada apenas para mostrar, mas para esconder, cobrir, resistir. São pinturas que carregam o tempo em sua superfície, como cicatrizes abertas.

Essas obras se conectam à ideia de ecologia visual, memória fragmentada e história afetiva. Cada camada é um tempo — e o espectador se torna arqueólogo do olhar, tateando vestígios de algo que já foi e ainda pulsa.

Foto: divulgação Bernardo Liu

Uma pintura menos imagem, mais presença

As quatro tendências da pintura contemporânea não apenas revelam um momento estético, mas expressam um desejo coletivo: o de desacelerar. Em meio à avalanche de imagens que nos cerca, a arte não busca competir em nitidez ou velocidade — ela propõe outro ritmo. Um tempo mais lento, mais tátil, mais humano. Para curadores, artistas e espectadores, o desafio é o mesmo: como sustentar o olhar sobre uma imagem que se recusa a ser óbvia? Como acolher o que está borrado, instável ou inacabado — e ainda assim reconhecer ali uma forma de verdade?

Esse movimento de retorno ao sensível e ao imperfeito não é apenas poético, mas também estratégico. Embora o mercado de arte tenha sua dose de volatilidade, é justamente na arte contemporânea que se encontra o maior potencial de crescimento. Impulsionada pela expansão das bienais e feiras, e cada vez mais valorizada por uma nova geração de colecionadores, essa produção dialoga com o presente de forma urgente e autêntica.

Ao contrário da crença de que o reconhecimento artístico só chega postumamente, muitos artistas contemporâneos já atingem projeções de valor e prestígio em vida. Se os antigos mestres ainda despertam admiração, a verdade é que, em 2025, investir exclusivamente em períodos passados soa anacrônico diante da potência e relevância do que está sendo criado agora.


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