Foto: Art Basel Paris 2024: a sculpture by Niki de Saint-Phalle on the forecourt of the Institut de France – Sortiraparis.com

Menos dinheiro, mais movimento
O ano fechou com cerca de US$ 57,5 bilhões em vendas, uma queda de 12% em relação a 2023. Mas calma — esse número não significa menos interesse por arte. Muito pelo contrário: foram mais de 40 milhões de transações no mundo todo, 3% a mais do que no ano anterior.
Esse movimento aponta para um mercado que está se democratizando aos poucos, com mais circulação em faixas de preço acessíveis, enquanto o segmento de alto padrão (as obras milionárias) deu uma desacelerada. Podemos estar testemunhando uma redistribuição do capital artístico, com colecionadores menores e de médio porte assumindo maior protagonismo no cenário global.

Potências do mercado artístico

Os Estados Unidos seguem no topo, representando 43% das vendas globais. Mesmo com eleições tensas e um certo esfriamento nos leilões de alto valor, o país ainda movimentou quase US$ 25 bilhões em arte, consolidando sua posição como epicentro do mercado artístico mundial.

O Reino Unido voltou à segunda posição com 18% do mercado, ultrapassando a China, que sofreu uma forte queda de 31%, chegando a US$ 8,4 bilhões — o pior desempenho desde 2009. Esta reviravolta reflete tanto a resistência do mercado britânico pós-Brexit quanto os desafios econômicos enfrentados pelo gigante asiático.

Foto: Art Basel Paris en images : L’édition 2024 de la foire d’art contemporain au Grand Palais ! Arts in the City

E na Europa?

A França manteve sua força, mesmo com queda de 10%, e segue como o 4º maior mercado global. Impulsionada por Paris como destino artístico europeu, a capital francesa vem consolidando seu papel como alternativa a Londres no contexto pós-Brexit.

Já o bloco da União Europeia teve uma redução média de 8%, somando US$ 8,3 bilhões. Apesar da queda, mercados como o alemão e o italiano mostraram sinais de resiliência, com feiras locais atraindo atenção internacional.

Na Ásia, o cenário foi misto: Coreia do Sul em queda (–15%) e Japão crescendo modestamente (+2%), indicando uma redistribuição de forças no continente que já foi o motor do crescimento global na década anterior.

Foto: Art Basel Hong Kong 2025 – Klook

Arte online: depois do boom, a estabilização

As vendas online somaram US$ 10,5 bilhões, 11% abaixo de 2023 — mas ainda 76% acima de 2019, antes da pandemia. A fatia do e-commerce se manteve estável em 18% do total de vendas, sinalizando que o digital já é parte essencial da engrenagem, mesmo sem os exageros de 2020.

Este patamar evidencia uma nova normalidade: plataformas online deixaram de ser alternativas emergenciais para se tornarem canais complementares e permanentes, especialmente para obras de valor médio e para artistas emergentes que encontram nestes espaços maior visibilidade.

Foto: Amilcar Basel | Art Basel Paris 2024 – Public Program | 15 – 26 Outubro 2024 | Galeria Marilia Razuk | Galeria Marilia Razuk

O que observar daqui para a frente?

  • O mercado está mais acessível, com maior circulação de obras em faixas de preço intermediárias, abrindo portas para novos colecionadores e investidores.
  • O segmento de obras “blue chip” (alto padrão) parece estar passando por uma reavaliação. Os recordes estratosféricos de anos anteriores deram lugar a uma abordagem mais cautelosa, refletindo incertezas econômicas globais.
  • O digital se consolidou, mas o crescimento rápido deu lugar a uma maturidade mais estável. Galerias e casas de leilão agora adotam estratégias verdadeiramente híbridas, combinando experiências presenciais com plataformas virtuais.
  • Novos mercados emergentes começam a ganhar destaque, com África e América Latina apresentando crescimento contra a tendência global, impulsionados por uma nova geração de colecionadores locais e interesse internacional por narrativas artísticas diversificadas.
  • A sustentabilidade tornou-se fator decisivo nas decisões de compra, com colecionadores cada vez mais atentos ao impacto ambiental das feiras, transporte de obras e práticas do setor como um todo.

Este reequilíbrio do mercado sugere não um enfraquecimento, mas uma transformação em curso. O futuro parece apontar para um ecossistema mais diversificado, resiliente e potencialmente mais sustentável a longo prazo.

Foto: Art Basel Paris 2024 : des premières ventes solides – Le Quotidien de l’Art